segunda-feira, janeiro 5

Bulgária, Yamush, Peanut, Nova Iorque, Ucrânia, o Magalhães, os índios Maleku

Estranhas voltas as da minha cabeça, bizarro o modo de me pôr azedo e sombrio com o que para outros são actos evidentes de bondade.

Ele conta-me da filha que dias atrás partiu para a Roménia, Bulgária ou Ucrânia – ela como de costume vaga nos detalhes; desinteressado e aborrecido ele – envolvida agora num projecto de salvação de ursos idosos. Eu retribuo, contando-lhe de duas minhas que para a semana voam para Istambul, a buscar Yamush e Peanut, gatos que uma amiga turca tirou de um asilo.

A nós ambos incomodou a história da tal que, depois de ter sido “nómada durante dois anos” (antigamente dizia-se vadia), fez um retiro de quarenta dias de silêncio e jejum entre os índios Maleku, aprendeu tudo sobre plantas medicinais, e “ao fim desse tempo estava como nova.” Deus Nosso Senhor a favoreça, dizemos ambos em coro.

Recordamos a que maltrata e trata mal as criadas – tem várias nas suas várias casas – e com muito tam-tam publicitário fundou uma escola para as criancinhas pobres de Soweto.

O simpático da fotografia informou os jornais que, dez anos passados, encontrou em Nova Iorque uma rapariga sem abrigo. Conversaram. Tomaram café. Num Starbucks, evidentemente. Volta ele agora às Américas com o projecto de fazer um filme sobre a rapariga. Se a encontrar.

Além de que do ponto de vista humano, social, profissional e fílmico, acha isso um extraordinário desafio, tem também a certeza que assim contribuirá para que a opinião mundial se torne mais sensível à miséria dos sem-abrigo. Americanos ou não.


Projectos. Desafios. Natureza. Energia verde. Ar puro. Bio-combustíveis.Slow food. Luta contra o aquecimento global. Quinhentos mil Magalhães!...

O mundo vai mudar para melhor, enquanto eu continuo a ser o pior dos cegos: o que recusa ver.

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(*) Fotografia: Cynthia van Elk.