sábado, abril 4

O cemitério velho (2)

Da idade é pouco provável que tenha sido, pelo menos da primeira vez, pois então andava eu à volta dos quarenta.

Em 1971 ou 72, uma tarde, num café em Lisboa, onde tinha apalavrado com um redactor de A Capital, estávamos a meio da entrevista quando aparece um amigo comum.Estaca junto da mesa com uma expressão de descrença, os olhos arregalados, a boca aberta, o indicador espetado, e só passado uns instantes conseguiu articular:

- Não recordo quem foi, mas disseram-me que tinhas morrido!

Ao longo do tempo esse quiproquó tem-se dado em situações variadas, servindo até por vezes como desculpa tola para promessas não cumpridas. Seja como for, quando vem a propósito, e para não embaraçar o próximo, costumo chalacear que não tem importância, pois desde 71 ou 72 que ando a “falecer”.

Dias atrás, porém, visitando o cemitério velho, essa minha graça levou uma inesperada volta: parece que não somente “faleci”, como também estou lá “enterrado”.


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