quinta-feira, maio 7

Em pé de guerra


Fala-se de bichos, logo alguém lembra a clássica bondade de São Francisco para com esses nossos irmãos. O santinho de Assis é que de certeza não tinha, como eu tenho, um patamar coberto por um alpendre onde, há quase um mês, este casal de andorinhas embirra que há-de fazer o ninho.

Da primeira luz da manhã ao sol-pôr é um esvoaçar sem descanso no carreto de palhas e lama para a argamassa. Constroem? Deito eu abaixo. Guardo a vassoura? Recomeçam a borrar. Penduram-se no fio do telefone? Enxoto-as. Sento-me exausto? Retomam elas a empreitada.

Não vou mostrar, mas o tecto do alpendre está uma vergonha, com jornais entre as vigas, fitas de plástico a fazer de espantalho e tantas cagadelas que dá a impressão de que, não um par, mas todo um bando tem ali a sua latrina.

Quantas vezes subi já ao escadote para limpar aquilo? Mais de trinta! Quantas vezes as ameacei com a vassoura ou o punho simbólico dos oprimidos? Perdi-lhe a conta! .

Na aldeia são às dezenas as casas velhas, os muros em ruína, os cabanais abandonados, tudo excelentes poisos para fazer ninho, mas não senhor, pelos jeitos tem de forçosamente ser aqui. Nossos irmãos bichos uma fava! Ainda por cima chatos, agressivos, indiferentes à limpeza e à minha precisão de descanso.

Gracejando que o casal e eu andamos em guerra, o vizinho ofereceu-se para ir buscar a caçadeira carregada de escumilha e pôr fim às hostilidades. Ainda não aceitei, mas estou a pontos de, agora que pousaram no fio, perguntar-lhes, parafraseando Cícero: Quousque tandem abutere hirondinidae patientia nostra?