domingo, junho 28

Sitemeter

Passadas quatro décadas desde que foi publicado o meu primeiro livro, dou-me conta da interessante diferença que existe (ou eu faço) entre o leitor da minha prosa e o leitor/visitante deste blogue.

Tirante as excepções de um esporádico contacto postal ou pessoal, o primeiro sempre foi para mim uma presença traduzida em números. Tantos exemplares vendidos, tantas pessoas que sabem da minha existência. Por vezes, o acaso de uma janela aberta deixa entrever uma estante, e posso perguntar-me se porventura haverá ali um livro meu, mas passo adiante. Noutras ocasiões um desconhecido refere que leu algo de mim, sorri, e perde-se na multidão. Grosso modo o contacto não vai mais longe.

Com este blogue, porém, a situação é diferente. Umas vezes um pouco mais, outra vezes menos, anda em média à volta da centena o número de visitantes diários, e é felizmente escasso o número daqueles que por e-mail me contacta. Digo felizmente porque, fossem muitos, não lhes poderia responder.

Com todos, porém, estabeleço uma curiosa e anónima relação de sentido único. Graças ao Sitemeter, e ao contrário do leitor dos meus livros, sei em geral onde se encontram, a que horas me procuram, quantas e quais páginas leram.

O ritual da minha visita nocturna ao Sitemeter dispara então a fantasia. Em Lisboa, no Mato Grosso, na Califórina, Viseu, Alemanha… Quem será ? Mulher? Adolescente? Homem? Que fará? Por que terá vindo?

Entro assim num jogo de imaginar pessoas e atitudes, lugares, ambientes, estabeleço com esses anónimos um impossível diálogo, tornam-se eles para mim uma companhia que, não sendo por inteiro concreta, ultrapassa o virtual.