sábado, novembro 7

Hábitos


No começo dos anos sessenta tinha eu em Amsterdam uma empregada – ainda não se dizia assistente da limpeza – avançada na idade, de odores fortes, cómica no feitio e com um hábito alimentar que me parecia absurdo. Gabava-se ela que desde o casamento, uns quarenta anos passados, à sexta-feira comia frango no churrasco com batatas fritas. Festas, doenças, quatro partos, a Segunda Guerra Mundial, nunca tinha arredado do hábito, e às gargalhadas convidava-me a imaginar a fila que fariam os dois mil e mais frangos que já tinha grelhado.

Veio-me ela ontem à lembrança quando se me revirou o estômago com uma feijoada de marisco comida ao almoço. Não tanto pela feijoada, que por acaso estava má, mas porque - nunca digas desta água não beberei - estando na aldeia, às quintas-feiras vou-me ao "Artur" de Carviçais comer o cozido. Feijoada de marisco e cozido à portuguesa em dias seguidos, não há corpo que aguente. Estou de cama.