domingo, abril 25

Com ostras


Para mim este número da Pública é histórico e vou guardá-lo. Não pela tola da capa, mas pela novidade – novidade no meu caso – de um restaurante algures na Catalunha.

Caro que baste e snob de longas reservas, nesse lugar servem refeições que, além da satisfação do apetite, funcionam sobretudo como acessório emocional. Exemplo: uma infusão de terra húmida com goma de Xantana a acompanhar ostras, de modo que o cliente ressinta a comunhão muito catalã do mar com o monte e, ao comer, lhe venha à "memória um passeio por um bosque húmido onde acabou de chover."

Mas têm mais, pois, entre outras, preparam sobremesas com aromas citrinos que, combinados "com o leite e um creme de manteiga associam à ideia da infância." Esperam também "que o limão incuta uma sensação de energia que transporte o feliz comensal para mais um universo paralelo, desta vez marcado pela ternura."

Fumos de tabaco "que dão uma sabor incrível ao doce", sobremesas inspiradas nos perfumes de Gucci e Chanel...

Aqui chegado comecei a agoniar-me. Ocorreu-me que não demorará a abertrura do primeiro restaurante coprófago, onde, para avivar emoções e memórias, sirvam as ostras acompanhadas de uma infusão de merda.