quinta-feira, setembro 9

Momentos (2)


Duas loiras, duas pretas retintas, as quatro naquela idade em que se é dono do mundo. Power suits de tecido caro, acessórios de luxo, em cima da mesa parafernália condizente: Blackberries , iPods, netbooks. Vodka-martinis e sorrisos deslumbrantes, como se de um momento para o outro o Sean Connery com que suas mães sonharam, ou George Clooney, entrassem no café onde, no meu disfarce costumeiro de idoso alheado e entregue à frescura da cerveja, eu lhes seguia a agitação, apanhando aqui e ali frases da conversa.
De vez em quando gargalhavam. Faziam gestos de cordialidade, acenos de concordância e compreensão. Uma das negras tinha o tique de pontear a conversa figurando aspas com os dedos, ao mesmo tempo que soprava, como se assim indicasse dificuldade ou perigo.
Interessante espectáculo, a contrastar com a pachorrice do café.
Inesperadamente, ambas as loiras e a outra negra arrepanharam a maquinaria, ergueram-se numa pressa, viraram as costas sem despedidas nem cortesia.
A dos tiques, não tenho a certeza e pode ter sido impressão minha, ficou um instante de boca aberta e os dedos no ar, talvez hesitando se fecharia as aspas.