segunda-feira, janeiro 31

Cantorias

Desmancha-prazeres não gosto de ser, mas tenho as minhas sombras e há muito perdi o hábito de deixar que me arrastem. É sinal de velhice, dirão, provavelmente será, mas é também o gosto de pensar duas vezes e fazê-lo com a minha própria cabeça.
Passei ontem pelo "Arrastão", ouvi os "Deolinda" e atentei neste comentário: "A música é boa, a letra é incisiva mas é a reacção vibrante do público que nos diz o essencial. Temos hino, temos ânimo, falta-nos mais combate."
Por que me ensombrei com "a reacção vibrante do público", aquele entusiasmo, a ovação em pé, as palmas, os assobios?
É que os que de verdade sentem na pele: "que mundo tão parvo, onde para ser escravo é preciso estudar" , a esses não sobra dinheiro para o bilhete, não estavam na sala. E que é isso de "falta-nos mais combate"? Onde estão as barricadas?
Palavras e cantorias são entretém, não são revolta. O folclore das "Grândola, vila morena" sai caro a quem canta e não trabalha.