quinta-feira, fevereiro 10

Familiaridades


Não faço ideia de como você encara estas coisas, mas eu venho do tempo do respeito, do respeitinho, das diferenças, das desigualdades, do medo e da ditadura. Recordo-me de já ser crescidote e ver anciãos tirar o chapéu a um ou outro graúdo e acrescentar à vénia um “Tenha Vossa Incelência muito boa tarde”.
Falo do tempo em que havia macacos grandes e pequenos, uns mais habilidosos, outros desajeitados, mas, e isso era de grande conveniência, não somente ficava cada um em seu galho, como sabia de cor e salteado as regras do comportamento.
Falo da antiguidade, anterior em séculos à democracia dos cravos, das curiosas igualdades que com eles floriram, mas não vamos começar agora com comparações nem insultos à “tenebrosa noite fascista”. O passado passou, e de mudanças já Camões disse o preciso. O que vem ao caso, porque me causa espécie, é ter-se perdido a arte de tomar chá em pequeno e se criou a ilusão bacoca de que comemos todos à mesma manjedoura.
É falso, mas não se diz em voz alta. Há que ser moderno e adoptar a familiaridade tosca dos simplórios.
Oiça: você que nunca me viu, não conhece de parte nenhuma, se se quer dirigir a mim e ter resposta, faça-o com boas maneiras. Talvez não saiba, mas digo-lho eu: na vida real não há Facebook.