quarta-feira, agosto 17

Il Pallio em Sienna

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Esta fotografia do povo que ontem, em Sienna, assistia à secular corrida de Il Pallio, provoca-me um singular incómodo.
O facto de não gostar de multidões é acessório. Perturba-me, sim, que esta gente esteja ali para ver e não vê coisa nenhuma. Mas foi, esteve, e ao contrário do rebanho nem pastor precisa. Desde que veja, que assista, pouco lhe importa onde ou a quê, se se lhe diz que vá a multidão vai.
Compõem-na autómatos de aparência humana, risonhos e pouco dispostos a juízos ou introspecções, voltados para o que em redor acontece. Julgando assistir a um espectáculo, quando o espectáculo são eles. Pelo número, a passividade, o feroz paquiderme em que se transformam se lhes mandam que dêem vivas ou morras.
Mesmo quando se julga arrastada por ideias, é sempre para fora que a multidão olha, nunca para o íntimo. A multidão não pensa, vai. A multidão é feita do teu e do meu semelhante.
Mete medo.