domingo, outubro 2

Kompressor

 Era um gozo que tinha antes de abrir a bagageira: passar o dedo pelas maiúsculas  cromadas. Uma a uma. KOMPRESSOR. Dava-lhe aquilo um sentimento de energia, sobretudo o K, por vezes soletrava baixinho, com pena de que, ao dizer compressor, a palavra não lhe soasse com a força que imaginava deveria ter em alemão .
Faz o que pode para esquecer como lhe doeu o aviso do banco, o anúncio final, os dois sujeitos que vieram exigir as chaves e os documentos. Mas ouve ainda o acelerar bruto do condutor, o ruído familiar a ecoar na distância, o seu Mercedes em mãos estranhas.
Por vezes, numa fila de táxis, num estacionamento, não resiste e faz como dantes, passa o dedo nas maiúsculas cromadas. KOMPRESSOR. As coisas vão mal, mas não perde a esperança.