quarta-feira, janeiro 11

Um gesto

Vai para trinta anos tiveram uma coisa de pouca dura, ambos arrependidos da traição e temerosos do risco. Depois a vida mandou cada um para seu lado, nunca mais se viram ou procuraram, conta ele agora que mesmo a recordação se fora esvaindo aos poucos. Grande surpresa, pois, quando dias atrás o acaso os juntou numa festa de aniversário. Viu-a sentada, a conversar, diz que se aproximou, mas não pôde mais que tocar-lhe no ombro.
Ela sorriu-lhe, continuou a conversa, só muito depois se viram frente a frente, a memória a acordar em ambos os jovens que tinham sido.
Tinham evitado as banalidades, felizmente não se deram cumprimentos, emocionados demais para a mentira de que o tempo os tinha poupado, ou estás cada vez mais bonita,  e tu não mudaste.
- Conversa tola, a falar verdade. O que me surpreendeu, quando chegámos a casa, foi a minha mulher perguntar se tínhamos tido… Neguei, claro. E diz ela assim: não deste conta, mas eu vi como lhe puseste a mão no ombro.