segunda-feira, março 23

Ser "marca"

Nada perdura, e contudo são milhões os que desejam ser "marca", pouco importando a esta se tem de fotografar o traseiro, àquela exibir-se topless, um enchendo de pingentes as orelhas, outro a garantir-se satanista encartado, todos juntos a viver a ilusão de que os achem únicos, todos juntos esquecidos do dito antigo que tudo o que é demais aborrece.
Querendo à viva força ser "marca", distinguir-se, afundam-se eles e elas num pantanal de uniforme banalidade, por vezes nem chegando a gozar os quinze – ou serão cinco? – minutos de fama que Andy Wharol profetizou, também ele "marca", também ele irremediavelmente passé, esquecido – Andy Wharol who?  – que de nada adianta a presunção nem o desejo, a ânsia de eternidade, certo e seguro que até o dia virá em que as criancinhas perguntarão o que era a Coca-Cola.
A sociedade em geral, e cada um em particular, todos ganharíamos se, juntamente com o lixo, descartássemos também a presunção de nos julgarmos únicos. Porque por muito que o repita a lei, a religião, a democracia e uma outra mãe, nunca o somos. Parecemos. Nem marca ou ferrete nos distingue, somos poeira e, doa às vaidades, à poeira voltamos.