quarta-feira, outubro 14

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Cada um sabe de si, cada um faz como quer, muitos fazem como lhes sugerem ou têm bom faro para modas. Assim seja, nada contra.
Sobre um recentemente publicado e já famoso romance leio encómios,  ditirambos, garantias de que tudo nele é do mais alto nível, surpreendente de página para página.
No volume original são elas quinhentas e sessenta e três, o que é boa mediania, pois um qualquer sueco posto a contar as suas bebedeiras, cópulas falhadas, alucinações, dilemas de fé, ânsias esotéricas e arrelias com a prole, facilmente alinhava seis vezes mil. Nada de excessivo, portanto.
Comecei entusiasmado a leitura e são logo umas doze páginas de mãe e filha, em telefonemas, questões de coisa nenhuma, conversas, problemas caseiros, problemas no call center, indiferença dos colegas. Há depois uns detalhes sobre a falta de alegria no trabalho, visitas à sanita, uma cópula adiada devido a uma discussão sobre o preenchimento de um formulário,  mais páginas a explicar que em certas alturas é difícil reter a urina.
Como por toque de varinha mágica vê-se o leitor em Berlim, onde o Muro ainda não caiu. Ontem à noite, chegado à página setenta e dois achei que bastava, arrumei o tomo.
São gostos, e o meu só para mim é válido. Devo talvez acrescentar que por ser  de pouca paciência me têm escapado muitas obras-primas.