segunda-feira, novembro 30

Sócrates e Bouterse, dois personagens

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Abstendo de sentimentos, emoções, antipatias ou simpatias pessoais, esforçando-me por me limitar ao potencial que para mim teriam se se tratasse de personagens de romance, entre as figuras políticas que ao longo de muitos anos tenho acompanhado de perto, duas  - o ex-primeiro ministro José Sócrates e Desi Bouterse, presidente da república do Suriname - ressaltam dentre a mediania, o cinzento e a banalidade dos que, seja em Bruxelas, na Mongólia ou no Haiti, se envolvem na arte de governar.
Não importam aqui virtudes ou defeitos, simplesmente o que com elas se poderia fazer na criação romanesca. São personagens com drama, excessivos em muitos aspectos do seu comportamento, mas dotados do carisma que exerce sobre massas de cidadãos o fascínio que os leva a deitar água no vinho das convicções e aceitar o que então lhes parece um mal menor.
Desi Bouterse (1945) nascido no Suriname, que até 1975 era colónia holandesa, começou como sargento, liderou o golpe que instaurou a ditadura militar (1980-1991), tomou parte no massacre de 1982 em que foram liquidados quinze eminentes opositores ao regime militar.
Em 2000 foi condenado por um tribunal holandês a onze anos de prisão pelo tráfico de 474 quilos de cocaína; há contra ele um mandado internacional de captura por tráfico de droga; o seu filho foi condenado em Miami a uma longa pena de prisão pelo mesmo crime. Presidente do Suriname desde 2010, foi reeleito este ano para um segundo mandato. Tem opositores, mas não suficientes para contrabalançar a enorme popularidade de que goza.
José Sócrates chamou-me pela primeira vez a atenção em 2005 durante os debates com Santana Lopes. Disse para com os meus botões, este tem garra e carisma, é atentar nele. E desde então assim tenho feito, acompanhando os altos e baixos da sua carreira, a resiliência, aquela capacidade de enfrentar que recorda o truculento Adhemar de Barros, governador do estado de São Paulo, que bradava na televisão, "Eu roubo, mas faço!"
Há suspeitas, há boatos, há manchetes nos jornais, a Justiça ainda não se pronunciou, até mais ver presume-se inocente. De qualquer modo tire-se-lhe o chapéu: depois de semelhante queda continuar em pé e a fazer frente, é de personagem invulgar.
Seja qual for o desenlace, sou de opinião que José Sócrates tem futuro na política: pelo seu carácter, mas também e mais ainda pela qualidade que raros políticos dominam, a de "sentir" o povo. Salazar era nisso mestre, Adhemar de Barros e  Desi Bouterse idem.
Bom conhecedor do povo é-o também aquele banqueiro que no começo da austeridade disse: "Aguenta, aguenta!"
Haja quem conheça as regras de bem o cavalgar, que é com esses que se fazem interessantes políticos e bons personagens de romance.
 




domingo, novembro 29

Je suis Charlie, Je suis Paris

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Trememos com o choque, chorámos pelos mortos, vimos os seus retratos, foram lidos os nomes, depostas as flores, guardámos o minuto de silêncio. Lemos que se sabe onde os assassinos compraram as armas, os detonadores, e que andam ainda fugidos.
Mas que resolvem as tragédias passadas e as que estão para vir? Onde nos tocam? Que nos dizem? Em que medida nos assustam, enraivam, comovem, entristecem?
É domingo de manhã. O sol brilha. Daqui a nada decidimos aonde iremos  almoçar.



sábado, novembro 28

Nada dizem? São só palavras?

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"Tempos atrás, em Berlim, foi perguntado a um iman qual era superior: a Constituição alemã ou a sharia. Respondeu ele: - Se estivermos em minoria, a Constituição. A sharia, quando formos a maioria".

……….
Numa entrevista do escritor húngaro György Konrád (1933) ao semanário neerlandês Elsevier (14.11.2015).
 

sexta-feira, novembro 27

Nada dizem, são só números

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PORTUGAL
10.4 milhões de habitantes;  PIB per capita: 16.700  €;  ministros: 18;  secretários de estado: 41.

HOLANDA:
16.8 milhões de habitantes;  PIB per capita: 37.000 €;  ministros: 13;  secretários de estado: 7.          

quinta-feira, novembro 26

Lifestyle

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Alguns deixam-se ir, aceitam, conformam-se, seguem modas e tendências, apuram o visual, impõem-se o lifestyle que julgam único, mas é do rebanho.
Nada contra. O rebanho é paz e segurança, oferece garantias, basta seguir o pastor, ele se encarrega de encontrar a erva.
No outro extremo estão as ovelhas ranhosas. Sempre incómodas, desobedientes, incapazes de ritmo, descuidadas no rumo, esquecidas das directivas, indiferentes à ameaça do cajado, resmungando quando o sentem no lombo, mas incapazes de melhorar.
Uns quantos nascem para o mando, muitos aceitam ser mandados, pagam as favas os que não querem uma coisa nem outra. Sei do que falo.