quinta-feira, janeiro 28

A gaja dos orgasmos (2)

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Quando é de nascença, nada a fazer, e consultar o psiquiatra nem sempre resulta, pois quem sofre da compulsão de se mostrar, de à viva força exigir ser visto, ouvido, admirado, não somente irá aos extremos, mas sem vergonha e alegremente os ultrapassará.
Pensando nisso, e porque há dias me vi confrontado com uma penível exibição, foi repescar um texto velho de dez anos. 

São memórias que ficam. Gargalhavam, a sufocar do riso. Então um levava a mão à braguilha, fazia o gesto de sacudir o que devia ter parecenças com tromba de elefante, e dizia à roda:
- Disto é que ela quer!
Adolescente romântico e testemunha involuntária, perturbava-me tanto a grosseria como a demonstração tola do desejo impotente.
Outra memória. Edith Piaff. Metro e meio de gente, umas poucas arrobas de pele e osso, grande voz. Ouvi-a cantar, na antiguidade em que Charles Aznavour era o seu pianista. Cama para aqui, légionnaire para ali, mon homme assim e mon homme assado, chansons de fodas de dois dias e três noites. Passada a novidade aquilo tornava-se cansativo, e a voz não bastava para fazer esquecer a discrepância entre a aparência frêle e os urros da luxúria.
Agora é ele que telefona, excitado, a perguntar se já li “a gaja dos orgasmos”. Uma que toda a gente conhece. Quase grita a contar que ela diz que ao ler certos livros tem orgasmos secretos, proibidos!....

Oiço e calo. De facto é isso: nem casto, nem virtuoso, e todavia continua a tomar-me um certo acanhamento perante a imposição do erotismo alheio.