domingo, novembro 6

Jorge de Sena

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Nunca fui muito de ler correspondências literárias, mas talvez por ter brevemente lidado com Jorge de Sena, e apreciar a sua prosa, a curiosidade levou-me a lê-lo. Da tarde da passada sexta-feira, até esta madrugada. Torcendo o nariz numa ou noutra passagem, divertido com as cortesias de ambos os correspondentes e o veneno de Sena, de que ficam aqui dois exemplos:
Menino do Restelo, diz ele dos colegas da presença - com minúscula: "essa gente que toda conheci como mesquinha e dúplice...nenhum se aristocratizou como artista para cima do balcão de secos e molhados, ou de ourives, com que os pais lhe pagaram os estudos que fizeram ou não. Foram a chegada da pequena-burguesia, provinciana e rasca, à literatura" (pág. 295).
" A desgraça portuguesa é sermos, com raras excepções, um país de putas, ou de filhos da puta, ou de sujeitos que acumulam as duas qualidades. Ainda por cima nem de grande cidade: todas e todos de Vila do Conde, Vila Real, profundas dos Alentejos, sem terem perdido o ranço de lojistas ou a malícia dos campónios. Porra para a classe média promovida das províncias, que nunca soube aristocratizar-se, nem tomar banho senão para ir à missa." (pág.301) 
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A vaidade de Eugénio de Andrade enfastia.